terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ESPORA / AGRADECIMENTOS / ANO NOVO

"Deve-se transformar o mundo infernal, repleto de lutas, num mundo paradisíaco, repleto de ARTE." (autor desconhecido)

Mais um ano terminando... Um ano de muitas realizações. Finalizei a produção do meu novo CD, MUTAÇÃO, que está tendo uma ótima receptividade no meio musical e do público em geral, e voltei a fazer shows com o meu trabalho solo. Com a Perdidos na Selva, cantei no Canecão, no Teatro Rival e em várias casas de shows maravilhosas. Foram muitos shows, levando a minha arte, e tudo o que ela agrega, para muitos lugares e corações. Isso só tem sido possível por causa da colaboração de fãs e amigos. Por isso, quero agradecer aos músicos que me acompanham no meu trabalho solo (Thiago Rodrigues, Bruno Dortas, Bruno Sá, Gabriel de Carvalho e Águia), aos companheiros de banda Perdidos na Selva (Bruno Sá, Evelyn Castro, Leonardo Guimarães, Márcio K, PC e Alexandre Magno), às bandas Fato Consumado, NV, Wagner Ricciardi e A Tribo, pelas participações em seus shows. Agradeço, também, a minha família (pai, mãe, irmãos, avós, primos) e amigos, Fabiana Henriques e Larícia Kaufmann, pelo suporte em meu trabalho, aos fãs que comparecem aos shows com suas energias positivas e a todos que são importantes na minha caminhada profissional e pessoal.
Muito obrigado pelos momentos maravilhosos e por me ajudarem a concretizar sonhos e desejos. A ARTE é a minha espora e por mais que machuque, é o que me faz prosseguir! É isso o que me mantém vivo!
Desejo um feliz ano novo para todos e que possamos enxergar com mais clareza o que nos turva a visão, impedindo de enxergar coisas importantes e, sendo assim, possamos encontrar maneiras de construir um mundo melhor a cada dia. Só depende de nós! PAZ!

ESPORA

Colocando a agonia para fora
A arte é apenas uma espora
Que me incita a seguir em frente
Me fere e instiga insistentemente

Um corte em cada gota sentida
Do sangue que escorre em cada partida
Deixado à solidão, ao redor da multidão
Que grita, aplaude e quer mais que a escuridão

Que aparece quando o espetáculo finda
E o artista já não é mais o que brilha
A cortina cobre o holofote que havia
E desencarna a personagem do artista

A realidade então surge implacável
Lembrando que o sentimento é incurável
E que o mais verdadeiro fica fora do palco
A realização momentânea era apenas parte do ato

Há sempre a hora do silêncio
Por mais que o grito seja intenso
Chega a pausa da madrugada solitária
E a insônia é companheira indesejada

A espora perfura o coração senciente
Alma que só transmite um pouco do que sente
E, destroçado, chega a hora de adormecer
Para em um novo dia sentir o sangue escorrer.

Por: Christiano Dortas

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

LIBERDADE CONDICIONAL

"Para conquistar a paz do lado de fora, muitas vezes temos que vencer a guerra interna." (Christiano Dortas)

"Não matarás." (Um dos dez mandamentos)

"Um dia o "MONSTRO" que criaram se volta contra aqueles que o alimentaram com desacaso, desigualdade e falta de educação. A única solução é parar de alimentá-lo com coisas negativas e alimentá-lo com AMOR, ATENÇÃO e EDUCAÇÃO. Algumas pessoas entendem os animais quando, por terem sido maltratados diversas vezes, atacam seus domadores, mas não percebem que o ser humano também pode ter esse comportamento. O que está acontecendo no Rio é inevitável, o "MONSTRO" está cansado de apanhar. Ou você acha que ele poderia se defender de outra forma?" (Christiano Dortas)

"Tu quer a paz, eu quero também,
Mas o estado não tem direito de matar ninguém
Aqui não tem pena de morte, mas segue o pensamento
O desejo de matar de um Capitão Nascimento
Que, sem treinamento, se mostra incompetente
O cidadão por outro lado se diz, impotente, mas
A impotência não é uma escolha também
De assumir a própria responsabilidade, hein?
Que cê tem e mente, se é que tem algo em mente
Porque a bala vai acabar ricocheteando na gente..." (Marcelo D2 – Trecho da música DESABAFO)
Essa música é atual, é da carreira solo. Mas desde 93 o Marcelo D2 já mandava a letra no Planet Hemp.

Escrevi a letra abaixo há no mínimo 9 anos. Lembro que na época estavam sendo colocadas grades nos prédios residenciais do Rio de Janeiro e percebi o quanto estávamos perdendo a liberdade, o quanto a violência estava nos invadindo. Nessa época já estava incomodado e inconformado com a situação em que vivíamos. Devido à violência, temos vivido em uma espécie de liberdade condicional e recentemente isso ficou mais claro. É triste perceber que foi preciso atingir o nível que chegamos há poucos dias para que muitas pessoas realmente se incomodassem e se indignassem. Muitos aceitavam a situação porque era só (ou muito mais) com pobre e favelado que o "bicho pegava". Agora que o terror chegou perto dos moradores de prédios e casas, ameaçando estas pessoas, elas se expressaram. E a primeira reação da maioria foi querer resolver a curtíssimo prazo um problema que já existe há anos, matando “todos” os bandidos.

O que está acontecendo no Rio é resultado de anos de omissão do governo, da polícia e da população. Enquanto acharmos normal as pequenas maldades e só nos indignarmos com as grandes, muitas coisas continuarão como estão. Que essa experiência sirva para não nos permitirmos que a situação volte a ficar como estava.
Para mim, não importam os motivos (Olimpíadas e Copa do mundo) dessa operação, o importante é o resultado. Mas é revoltante imaginar que essas ações tenham sido motivadas pela ganância. Fazer o que se é isso que é passado de geração em geração?
Parece que as coisas estão se resolvendo, pelo menos em alguns lugares, e que a polícia está agindo da melhor maneira. Isso é bom para mostrar que existem várias formas de resolver um problema.

Quando expus minha opinião em alguns lugares, dizendo que sou contra a morte dos bandidos, muitas pessoas criticaram a existência dos direitos humanos para eles. A minha opinião é a seguinte, não existem direitos humanos para muitos deles desde que nasceram, assim como para outros que vivem na miséria e não seguiram por esse caminho (possivelmente, muitos não seguiram por medo). Talvez o que haja para eles seja direito de vida, mas não humanos. Ou alguém acha que eles vivem bem com essa situação? Tenho noção de como uma boa educação, amor, apoio familiar e respeito, fazem diferença para um ser humano. Espero que o governo cumpra com as suas responsabilidades, suprindo com informação as áreas carentes, dando aulas de planejamento familiar e financeiro, dentre muitas outras coisas. Só assim esse quadro pode ser alterado.

O tráfico mata muita gente, mas a ignorância mata muito mais, nessa e em muitas outras situações.

“Não há caminhos para a PAZ, a PAZ é o caminho”. Essa frase de Mahatma Gandhi mostra o único caminho que deve ser seguido por aqueles que querem construir um mundo mais pacífico. São anos meditando sobre essa frase para chegar a captá-la um pouco melhor. Para entendê-la é preciso compreender profundamente o verdadeiro significado dessa simples palavra chamada PAZ! Gandhi sabia, e hoje também sei, que não existe outra forma, que só agindo com PAZ chegaremos à ela. Não a PAZ passiva, mas ativa, a que confronta o mal, sem se permitir ser como ele!

LIBERDADE CONDICIONAL

Me diz, o que é que você tem para mim
Mesmo que eu não esteja a fim de ouvir o que você tem para me contar
Me diz, por que é que tem que ser assim?
Nós sempre temos que ter um juiz
E eles querem nos mandar

Se até minha liberdade alguém escolheu por mim
E até os meus direitos eles decidem por mim
Liberdade atrás das grades não é liberdade não
Eles querem nos colocar numa prisão

Me diz, por que é que os bandidos estão livres
E nós que ficamos presos aqui, nesta liberdade condicional?
Me diz, por favor me diz o que eu fiz
Só quero viver e ser feliz
Por favor, me dê algum sinal

Se até minha liberdade alguém escolheu por mim
E até os meus direitos eles decidem por mim
Liberdade atrás das grades não é liberdade não
Eles querem nos colocar numa prisão

As grades destes prédios não te livram da violência
Sei que não há liberdade quando aprisionam sua consciência
Como viver em liberdade se muitas vezes não temos opção?
Eles querem nos colocar numa prisão.